domingo, 9 de outubro de 2011

Brincadeira de criança

Vamos lá! Depois de um longo (muito longo mesmo) período, cá estou! Tenho pensado em tantas coisas, algumas até penso em compartilhar, mas a verdade é que talvez tenha estado em uma fase um tanto...introspectiva, seria isso? Mas como disse “talvez tenha estado”, acho que significa que talvez não esteja mais. Acho ou tenho certeza? Enfim, um certa indagação me trouxe de volta às palavras: O que é essa tal certeza/segurança?

Desde que me entendo por gente escuto que o mundo pertence àqueles que têm segurança em tudo o que dizem, tudo o que fazem,  em todas as tomadas de decisão. Que temos que planejar tudo, da melhor maneira, detalhadamente, pra que nada dê errado. Será mesmo? Será que temos que ser assim tão seguros o tempo todo? Será que esse mundo nos dá alguma segurança? Sabe do que mais? Não faço ideia! Estou prestes a me formar e, em um ano que – desconfiei - que estava tranquilo demais, de repente muda tudo. E aí, onde é que fica o planejamento, o “construir o amanhã”? De repente eu descubro que me faltam tantas respostas e que essa fase da minha vida é só uma fase mesmo, e o mais interessante: não se completa com um diploma. E não estou falando de outros diplomas que virão, mas de ideias que não foram concluídas, de posicionamentos ainda meio “em cima do muro”, de construção de personalidade, mas isso não vem ao caso; não agora!
O que me tem feito refletir muito é sobre como a vida pode mesmo mudar os rumos em um piscar de olhos. Quem jurava estudar engenharia se vê estudando poesia. Quem sonhou um dia em viajar o mundo, hoje tira fotografias. Quem jurou nunca mais se apaixonar, de repente se casa (e jurando amor eterno). Não é estranho?  Talvez não. Talvez seja preciso engenhar muito bem pra entender poesia. Talvez se possa viajar o mundo através das lentes de uma câmera. Talvez o medo de se apaixonar e de sofrer novamente tenha sido essencial pra uma entrega verdadeiramente conquistada. Talvez não adiante de nada planejar a vida inteira de uma vez se “pra cada passo existe (mesmo) um tempo e uma hora”.
Outro dia uma garotinha de nove anos me perguntou se poderia fazer uma brincadeira comigo. Eu topei e ela, então, começou perguntando-me com quantos anos eu quero me casar. Já me causou logo um choque. Casar? Calma aí eu ainda nem terminei minha faculdade! Preciso me graduar, depois vem mestrado, doutorado, etc...etc... (Planejamento mode on) Além do mais eu nem tenho um namorado, como já posso saber a idade que irei me casar? E foi aí que surgiu uma pergunta ainda mais chocante: “Me diga o nome de três garotos com quem você quer se casar.” Socorro! Três, ainda por cima? (...) Fiquei de verdade sem resposta. “Anda logo, fala o nome de qualquer um” – disse a pequenina. Como qualquer um? Não posso querer me casar – já sabendo a idade que farei isso – com três quaisquer um. (Planejamento mode on – parte II). E veio então a terceira pergunta: “Três lugares do mundo que você moraria com seu marido”. Choquei, de verdade! Três lugares que moraria com um dos três maridos que escolhi, em uma determinada idade. Ok, lugar bonito, seguro, desenvolvido. Lugar tranquilo, longe de tudo, rua, chuva, fazenda. (Planejamento mode on – Parte III). Sabe-se lá como, a pequenina chegou a uma conclusão: casarei com o Fulano aos 30 anos, terei quatro filhos, morarei em São Francisco e serei extremamente pobre. Pronto! Em menos de cinco minutos tive minha vida toda planejada. Legal, né?
Bem, brincadeiras a parte, seria tão mais fácil se fosse assim né? Se as tomadas de decisão fossem feitas com a “inocência” da infância, bem do tipo “vai, anda logo, escolhe qualquer um”. Mas não é assim. Uma palavra torta e pronto, muda tudo. Um olhar uma única vez desencontrado pode não se encontrar nunca mais. Um telefonema não atendido, um e-mail não lido, um atraso naquele encontro...tudo isso pode ser definitivo pra nossa vida seguir esta ou aquela estrada. E o planejamento, fica como? Será que o bom da vida é “não planejar”? Ou controlar tudo e jogar a culpa no acaso quando algo sair da linha?
Sabe o que é o melhor de tudo? A estrada é sempre de mão-dupla. O melhor de tudo é poder voltar, não no tempo, mas nos caminhos e reconstruir essa história, mudar os rumos, os gostos, os sonhos, os amores...Mas construir, sempre! Talvez o medo de voltar seja [quase] sempre muito maior do que o medo de seguir no escuro, no sofrimento.
Não vale a pena! De que adianta uma carreira de sucesso, um casamento em “São Francisco”, se bom mesmo seria aquela sensação de aconchego no sofá de casa? Decisões nunca são erradas, caminhos nunca são trilhados em vão. Mas nada como reconhecer que gostava mesmo era do ponto de partida, voltar atrás e começar outra vez.
Ah! Lembra da garotinha? A melhor parte da brincadeira foi o dia seguinte. Ela veio correndo e disse: “Você tem um papel aí? É que fiquei com dó de você ser extremamente pobre com quatro filhos pra criar e quero fazer a brincadeira outra vez pra mudar o seu destino!”. 

E ainda tem gente que diz que criança não sabe de nada! ;)

¡Hasta luego!
Prometo não demorar tanto dessa vez ;D


"Brincadeira de criança, como é bom, como é bom..." (8)

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